Gabú, Guiné-Bissau – A esquina atrás do Comité de Estado de Gabú é um ponto visível de vulnerabilidade social. Todas as noites, mulheres se vêem forçadas a vender seus corpos como único meio de sobrevivência. Cada uma delas carrega uma história de dificuldades econômicas, falta de oportunidades e, em muitos casos, abandono social.
Embora a moralização sobre o tema seja comum, muitos esquecem que essas mulheres não escolheram esse caminho por vontade própria. Elas são, na maioria das vezes, vítimas de um sistema falho, que não oferece alternativas viáveis, como educação de qualidade, emprego digno ou uma rede de proteção social eficiente. Para algumas, a prostituição tornou-se a última opção para sustentar seus filhos, pagar a renda ou simplesmente garantir a própria sobrevivência.
Esse fenômeno não é um simples reflexo de costumes ou questões morais. Trata-se de uma falha estrutural em fornecer condições dignas para aqueles que vivem à margem da sociedade. Sem políticas públicas eficazes de reintegração e alternativas sustentáveis, a realidade das mulheres atrás do Comité de Estado de Gabú continuará sem mudanças.
Promessas não cumpridas
Em entrevista à Canal TV Sintchan Ôcco, a governadora da região de Gabú havia se comprometido a acabar com a prática de prostituição naquela área e a criar um novo espaço de acolhimento para as mulheres envolvidas nesse comércio. No entanto, até hoje, essa promessa não foi cumprida.
A falta de ações concretas e a ausência de soluções visíveis geram desconfiança na população. Caso a razão para a demora seja a falta de recursos, é imprescindível que a governadora informe a população e busque alternativas. Se, por outro lado, a questão for uma falta de prioridade, é necessário que a gestão pública reveja seu compromisso com a causa social. O silêncio e a inação são, neste caso, os maiores inimigos.
A prostituição em Gabú não é um fenômeno novo. Há anos, mulheres se veem presas em um ciclo de exploração e marginalização, atravessando diferentes administrações sem que haja uma intervenção eficaz. Embora a prática não tenha começado durante o atual mandato da governadora, a responsabilidade de enfrentar essa realidade está, agora, em suas mãos.
O que Gabú precisa não são mais promessas vazias, mas ações concretas. A sociedade local precisa de políticas públicas que ofereçam alternativas reais, como programas de reintegração, apoio psicológico e profissional, e uma rede de proteção social para essas mulheres. Sem isso, a prostituição continuará a ser uma tragédia silenciosa que se arrasta de noite para noite, refletindo a falência do sistema que deveria protegê-las.
O resgate da dignidade dessas mulheres é, antes de tudo, o resgate da dignidade da própria cidade de Gabú.
Fonte: Rádio Sintchan ôcco
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