O Partido Lanta Cedo divulgou que nove dos seus delegados que teriam viajado para participar na convenção em Lisboa “fugiram” ao chegar ao Aeroporto Humberto Delgado. Em contrapartida, algumas pessoas que o partido identifica como delegados (fugitivos) contataram a redação da Rádio TV Bantaba, os quais negam ser delegados e afirmam que a viagem resultou de um acordo financeiro. Por receio de perseguições, pediram para não ser identificados.
“Não somos delegados; foi negócio”
O primeiro interveniente afirma, em tom categórico, que nunca foi delegado do partido e descreve a relação como puramente comercial:
“Em primeiro lugar, nós não somos delegados do Partido Lanta Cedo, como foi dito pelo presidente. A nossa relação com o partido tem a ver com negócio. O combinado era pagarmos 3,5 milhões de francos CFA e iam-nos levar para Portugal no âmbito do lançamento do website oficial do partido.”
Segundo o relato, a viagem estava marcada para 15 de maio, mas “os nossos pedidos de visto foram indeferidos pela Embaixada de Portugal em Bissau”. Posteriormente, o partido promoveu o lançamento do site no Hotel Royal, em Bissau. Estavam presentes 15 pessoas; apenas cinco eram, segundo ele, membros do partido mas estes não tinham dinheiro para pagar visto e bilhete, pelo que “eliminaram” os seus nomes e escolheram outras pessoas que pudessem pagar os 3,5 milhões de francos CFA.
O interveniente conta que teve de empenhar o telemóvel por 130 mil francos CFA para pagar o visto (104 mil francos CFA), além do seguro e do bilhete. Após a entrega dos documentos, no dia 23, foram chamados por uma pessoa ligada ao partido, que lhes disse que, se fossem agora para a Europa, “seria difícil regularizarem”.
Quando questionaram qual seria a alternativa, a pessoa terá respondido que “têm de ir e voltar e depois ir para Espanha, porque Espanha deu-lhe aval para submeter documentos”. O interveniente e um amigo, por terem experiência, receberam o pedido para transmitir a mensagem ao resto do grupo. Após ponderarem, apresentaram a proposta mas esta não foi aceite, pois “havia adultos com idade do meu pai” e não era esse o combinado inicial.
Acusa ainda o presidente do partido de faltar à verdade ao publicar nas redes sociais que o grupo fugiu no aeroporto, considerando que tal constitui “fraude migratória”:
“Nós não somos membros do partido; não temos cartão nem nada que prove que somos delegados. Ao publicar no Facebook que fugimos, ele queimou a sua carreira política porque fez fraude migratória.”
O orador afirma que as provas estão à disposição da Rádio TV Bantaba e lança um desafio:
“A Rádio TV Bantaba pode enviar essas provas ao presidente do Lanta Cedo; ele saberá do que se trata.”
“Pagámos todas as despesas; fomos nós que fizemos tudo”
O segundo interveniente corrobora a versão de que não se tratou de fuga, mas de um acordo financeiro e logístico com o partido:
“Tudo foi business; que íamos ficar na Europa.”
Refere que o grupo inicial era de 15 pessoas e que, após o indeferimento da embaixada, o partido ADN de Portugal, parceiro do Partido Lanta Cedo da Guiné-Bissau, esteve presente no lançamento do site em Bissau. Como já tinham pago visto e seguro, foi iniciado um novo processo, excluindo quem não conseguiu pagar.
Diz ter emprestado 500 mil francos CFA ao partido, sem compromisso, o que poderá ter evitado a sua exclusão. Nesta nova fase, voltaram a pagar visto e seguro, e foram convocados para digitalizar documentos. Foi-lhes então dito que teriam de assinar um compromisso de regresso condição que não estava no acordo inicial.
“Assinámos porque queríamos vir para Portugal, mas voltar sabíamos que não íamos voltar para Bissau.”
O relato acrescenta que o transporte até Dakar, a alimentação e a estadia foram custeados pelos próprios, tendo dormido 11 num quarto. No aeroporto de Dakar surgiram problemas porque os bilhetes comprados pelo partido eram apenas de ida. Em Madrid, perderam a ligação por desconhecimento do aeroporto, ficando três dos onze para trás.
Ao chegarem a Lisboa, um membro recebeu uma mensagem confidencial a alertar que o partido planeava “reter os nossos documentos” e não permitir que saíssem para visitar familiares. Sem ninguém à espera no aeroporto e após receberem essa informação, decidiram “ir embora”.
“Tudo foi um business, porque demos dinheiro cada um de nós.”
Os intervenientes mantêm-se anónimos por receio de represálias. A RTB aguarda reação do partido sobre o caso.
Rádio TV Bantaba — a maior plataforma de notícias da Guiné-Bissau
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